terça-feira, julho 7

Vou-me embora daqui.

- MEFISTÓFELES
Se tu, meu bom senhor, queres tanto me ver,
E por tudo perguntas que há lá pelo inferno,
E sempre a mim contemplas, com todo prazer,
Aqui me tens de novo humilde, caro e terno.
Perdoa se não uso alta e fina linguagem,
Às vais da assistência há muito tenho horror.
Minha “tara” a teus risos dará sempre margem,
Também caso não hajas perdido o teu humor.
Do sol e das estrelas eu nada compreendo,
Atormentar os homens é só o que entendo,
E o homem há de ser sempre um grande toleirão,
Como no dia primeiro em que houve a Criação.
Bem melhor viveria um ser que é tão franzino,
Não lhe tivesses dado o lampejo divino,
Que se chama Razão, o que o faz mais brutal
Do que todos os bichos do reino animal.
Ele mais me parece, e peço permissão,
Um gafanhoto vil de grande proporção,
Que sempre voa, voa e revoando salta
E sobre a densa relva a si mesmo exalta;
Que no chão permanece exposto molemente
E no lodo chafurda a luta eternamente.

- O SENHOR

Não tens mais coisa alguma agora a me dizer?
Surges sempre com queixas tantas a fazer?
No mundo nada há justo, exato, nem perfeito?

- MEFISTÓFELES
Não, Senhor! Tudo ali está muito mal feito,
E a pobre Humanidade em perene sofrer,
Que eu gostaria até de não n’a aborrecer.


Fausto - Goethe.

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